Cresci vendo contratos dividindo espaço com receitas de família. Meu universo sempre foi o dos empreendimentos familiares — do setor imobiliário ao farmacêutico, do ramo alimentício a academias. Mais do que números e operações, aprendi a lidar com algo que nenhuma planilha mostra: os sentimentos que atravessam as decisões empresariais.
Nas empresas familiares, o que está em jogo vai além do lucro. Há legados emocionais, expectativas silenciosas e afetos muitas vezes não verbalizados. O pai que resiste em ceder espaço ao filho, o irmão que questiona decisões sem confrontar, o primo que ocupa cargos por herança e não por competência. Tudo isso cria um campo delicado, onde o risco de conflito está sempre latente.
Quando me formei em direito e passei a ter a Advocacia como a principal atividade, atuei em diversos casos onde as questões familiares se confundiam com as questões de gestão e financeiras dessas famílias, e aí percebia o quão bem sucedidas eram as nossas empresas, que, felizmente, nunca passaram por desentendimentos graves.
Mais adiante, ingressei no mundo da mediação, um degrau importante para oferecer melhores serviços aos clientes, que não buscavam só orientaçao juridica, mas precisavam muito mais de soluçoes eficientes para seus conflitos familiares.
Agora, sendo uma board member, vejo que o conjunto de habilidades se complementa, pois a figura do conselheiro com formação em Mediação, que não apenas entende de governança e estratégia, mas que sabe escutar, interpretar dinâmicas sutis e construir pontes entre pessoas, pode atuar com excelência em empresas familiares.
Conselhos Consultivos bem estruturados têm o poder de antecipar rupturas e alinhar expectativas. Quando liderados por alguém que compreende o valor do diálogo e da neutralidade, eles se tornam fóruns de crescimento, longevidade e inovação. É ali que se pode conciliar tradição e futuro, emoção e razão.
O maior ato de amor por uma empresa familiar é profissionalizá-la sem perder sua essência. E isso só é possível com governança estruturada e afetos respeitados.
Conselheiros com olhar técnico e coração sensível são peças-chave para que essas empresas não apenas sobrevivam — mas floresçam por gerações.